sábado, 18 de outubro de 2014

III - A EPIDEMIA EBOLA: A TRANSMISSÃO

Entenda um pouco sobre as formas de transmissão e prevenção da doença considerada por muitos a mais devastadora já descoberta na história da humanidade.







“Eu estava coletando amostras de sangue de pacientes. Nós não tínhamos equipamentos de proteção suficientes e eu desenvolvi os mesmo sintomas. No dia 19 de novembro de 2007, recebi a confirmação do laboratório. Eu havia contraído Ebola”.

Kiiza Isaac, enfermeiro ugandense.



Nos últimos meses, o vírus Ebola tem ganhado as manchetes em todo o mundo.
A doença, que antes era negligenciada pelos países mais ricos e indústrias farmacêuticas, por atingir somente a África, e matar só pobres, negros, assolados pelas guerras e pela fome, (e que por sua condição, são, por mais cruel e desumano que pareça, invisíveis ao frio mundo capitalista), agora, toma uma nova proporção na medida em que, possibilitada pela maior globalização e, consequentemente, mobilidade, em que vivemos nos dias atuais, tem o potencial de causar uma enorme catástrofe, em vários lugares do mundo.
Sobre este fato, duas terríveis verdades sobrevivem: A primeira é que o Ebola foi descoberto em 1976, e desde esse tempo, nunca algo de efetivo foi feito para curar os muitos que morriam à míngua e sem a ajuda dos demais (se as indústrias farmacêuticas podem lucrar com Viagra e remédios de colesterol, porque se preocupariam em curar as pobres vítimas do Ebola?!), e a segunda, é que muito provavelmente, uma vacina ou droga eficiente, não será descoberta antes do fim desta crise. E a consequência é que a única saída do povo atingido é lutar bravamente contra a transmissão, evitando que os doentes infectem suas famílias (que os escondem em casa por medo dos hospitais), e que os enfermeiros, como Kiisa Isaac, e os médicos que atendem esses doentes, sejam acometidos do vírus.
Neste viés, essa postagem se deterá a explicar as formas de transmissão do ebola, e tentará propor medidas de prevenção deste mal, que há tantos anos, tem levado à morte, milhares de pessoas.



Transmitindo a Morte

Os vírus são agentes infecciosos constituídos por proteínas e ácido nucléico, sem organização celular e que parasitam células de todos os tipos, desde fungos, bactérias, e plantas, até animais. Além de produzirem doenças muitas vezes sérias em seres humanos, como o Ebola, o HIV, e a AIDS, os vírus também causam prejuízos comercias, ao atacarem animais e plantas de interesse financeiro ao ser humano.
O vírus Ebola, que é o foco primordial deste blog, pode ser contraído pelo ser humano, como já explicado em postagens anteriores, a partir de humanos e animais, e, embora perigoso, não pode ser transmitido pelo ar, mas tão somente através de fluidos corporais de seres infectados, como catarro, sêmen, secreção das partes íntimas, fluidos do espirro, saliva, suor, vômito, fezes e sangue, tanto pelo contato direto com os doentes, como após a exposição a objetos, como por exemplo, seringas, contaminadas.
Entretanto, ao contrário do que boa parte das pessoas pensa, o Ebola não pode ser transmitido até que apareçam os sintomas, sendo, desta forma, improvável que o mesmo se transmita entre passageiros de um espaço confinado como um avião ou um trem, mas sim, que as mais prováveis contaminações aconteçam com as pessoas que convivem com aqueles que já padecem da doença, como profissionais de saúde, (como é o caso do enfermeiro citado nesta postagem), e principalmente, familiares: pais, filhos e cônjuges do enfermo, que correm risco tanto ao tentar manter o doente em casa, (em decorrência da cultura ou mesmo da superlotação dos hospitais que já não suportam atender tantos infectados), como na tentativa de levar seu ente querido ao hospital, situação em que acabam contaminando a si e aos demais, já que, por deficiência do serviço de saúde de distritos afetados como, por exemplo, Kailahum, (que mesmo sendo a região de Serra Leoa mais afetada pelo Ebola, possui apenas 4 ambulâncias para atender 480 mil pessoas), são levados a transportar seus parentes contaminados em meios de transporte públicos.



*Equipe de saúde transportando paciente de Ebola.


Os cuidados e precauções com vítimas do Ebola também não devem ser cessados nem após a cura, e incrivelmente, nem após a morte do doente.
Há indícios de que, pelo menos até sete semanas depois de recuperados, os homens ainda podem transmitir o vírus através do sêmen, e também, que pessoas que tiverem contato com os mortos infectados, durante os preparativos de um  funeral, por exemplo, ainda podem ser contaminadas (mais sobre os costumes africanos serão trabalhados nas próximas postagens).

"As pessoas que morreram de Ebola devem ser enterradas rapidamente e de forma segura", destacou a OMS.

Além de tudo isso, ainda existe um pequeno risco de contágio por meio de objetos e superfícies contaminadas, que pode ser explicado pelo fato de que o vírus Ebola sobrevive em superfícies secas, como maçanetas, por exemplo, por várias horas. 

Prevenção

Quando se trata de aproximar-se de pacientes com caso confirmado de Ebola ou com suspeita de possuir a doença, não só os profissionais da saúde, mas todas as pessoas, são obrigadas a proteger-se. Por isso, para terminar a postagem desta semana, eu trouxe uma lista selecionada de algumas medidas que podem ser aplicadas como forma de prevenção da doença, e que, consequentemente, se fossem informadas à população afetada de forma consistente, com trabalho e apoio dos demais países, proporcionariam uma diminuição da disseminação da doença, e uma queda significativa no número de mortes. Claro que somente isso, não resolveria o problema. É preciso de investimento em infraestrutura necessária para curar os doentes, comprar materiais e proteger os profissionais de saúde. É preciso que o mundo pesquise a cura para doença, e que os países em conjunto, busquem soluções. É preciso, como a jornalista Patrícia Melo, defendeu em seus textos, que a África receba doações e que o mundo saiba o que realmente está acontecendo.
Mas tomaria o mundo rico este papel e se importariam realmente as indústrias farmacêuticas com os que morrem na África?


Medidas Preventivas - Ebola

1.                   Lavar as mãos com frequência com água e sabão, ou, se não for possível, esfregá-las com álcool gel;

2.                  Procurar não frequentar lugares que facilitem a exposição ao vírus Ebola, como áreas afetadas (como Nigéria, Guiné Conacri, Serra Leoa e Libéria), países que possuem fronteira com países afetados, e também locais públicos com grandes concentrações de pessoas, como mercados.

3.                   Evitar contato com pessoas infectadas, principalmente quando a doença tiver em estado avançado. Lembre-se: quanto mais avançada a doença, maior a concentração de vírus e mais fácil o contágio;

4.                  Usar, sempre que for lidar com pacientes, vestimentas de proteção, como luvas e máscaras descartáveis, botas de borracha, macacões, aventais, e protetores oculares, e não se esquecer de desinfetar todo o material depois do uso.

5.                   Ter cuidados extremos no uso e no descarte de agulhas e seringas, sem nunca, em hipótese alguma, reutilizá-las.

6.                  Esterilizar instrumentos médicos metálicos que serão reaproveitados.


7.                  Só comer alimentos exóticos de que se conheça a procedência, e, no caso de moradores da região, evitar comer carnes de “caças” ou morcegos, que são os hospedeiros naturais do Ebola (leia mais sobre isso na postagem 2). Evitar comer frutas mordiscadas, já que pode conter saliva de animais infectados.


8.                  Lembrar que um paciente falecido continua oferecendo risco de contágio mesmo depois da morte.

9.                  Não tocar nos fluidos corporais de um infectado. 

10.               Queimar todas as roupas da pessoa que morreu por causa do Ebola.





Em breve...
Sobre o Ebola, muitas perguntas podem surgir:
Qual a população mais atingida? Quais países sofrem a epidemia atual? Existe tratamento? Como ele se dá? O que é MSF e quais os riscos dos profissionais da saúde que trabalham com o Ebola? É possível a cura total?  Tem Ebola no Brasil? O Ebola seria um grandioso embuste? Quais as relações entre a doença e a sociedade africana? Como se dá a Bioquímica do Ebola?
Esses são alguns dos assuntos que serão trabalhados nas próximas semanas.
Até.



Referências:

VOET, D.; VOET, J.G.; PRATT, C.W. Fundamentos de bioquímica: a vida em nível molecular . 2ª ed. Porto Alegre: Artmed.2008.




<http://drauziovarella.com.br/letras/e/ebola/> acesso em 17 de outubro de 2014.


<http://www.tuasaude.com/virus-ebola/> acesso em 17 de outubro de 2014.

8 comentários:

  1. Como bem mostrado, o ebola é transmitido pelo contato direto de fluidos corporais, ou seja, de "difícil" expansão de contágios, restringindo-se a contatos próximos do doente. Não é transmitido pelo ar, e muito menos pela picada de algum mosquito, o que seria catastrófico para a humanidade. Por que, então, o ebola assusta as autoridades, se a média de contágios por doente é 2, enquanto que a malária tem uma média de contágio de 100 pessoas para cada doente, e matou mais de 600 mil pessoas em 2012 ? O medo se dar pela alta letalidade dos infectados e também porque não há uma droga afetiva contra o ebola. Enquanto assistimos (o capitalismo) atônitos aos rumores de pandemia fantasiosa, nos regozijamos com as notícias frias de milhões de mortes na África pela malária, rubéola, catapora, AIDS e um vírus mais letal ainda, a fome. Doenças que não andam de avião como o maldito ebola.

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    1. Fonte : http://g1.globo.com/bemestar/ebola/noticia/2014/10/ebola-tem-expansao-mais-lenta-em-comparacao-outras-doencas.html

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  2. É pertinente esclarecer que o vírus ebola não se transmite com facilmente. Para ocorrer a transmissão do vírus é necessário um contacto direto com um líquido biológico do doente, como o sangue, as fezes ou o vômito. O vírus ebola é sobretudo perigoso quando mal acompanhado. Como os doentes infetados morrem de desidratação ou de hemorragias, então o tratamento consiste logicamente na hidratação e/ou transfusão sanguínea, e não na administração de uma qualquer vacina ou hipotético medicamento. Como a solução contra a epidemia consiste essencialmente em respeitar medidas simples usando o bom senso – higiene, boa nutrição, vitaminas C e D nas doses adequadas –, a verdadeira prioridade nos países tocados pelo flagelo deveria ser criar infra-estruturas médicas de forma a fornecer aos doentes os cuidados médicos de base. Seria bom que se soubesse que não há qualquer transmissão por via aérea, ou seja, quando uma pessoa fala ou tosse, não vai espalhar o vírus pelo espaço aéreo circundante.

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  3. O contágio com ebola é altamente improvável. Só ocorre por meio de contato direto, o que pode ser evitado com básicas medidas de higiene. Entretanto, profissionais de saúde tem grandes riscos de contágio devido à própria natureza do seu trabalho. Cadáveres também são potentes meios de contaminação, devendo receber maior atenção.
    Com isso, desde que surgiu, em 1976, só foram registradas 1500 mortes por ebola. Isso constitui uma das razões pelas quais recebeu pouca atenção e não haverem formas eficazes de tratamento ou prevenção.
    O índice de 90% de mortalidade da doença dá um arrepio. Mas a mortalidade por violência no Brasil, por exemplo, apavora.

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  4. Como foi dito nesta postagem o vírus Ebola é de difícil transmissão, sendo como forma de contágio o contato direto com fluidos corporais do doente, diferentemente do virus Influenza A H1N1, na qual teve um surto de pandemia que ocorreu em 2009, que tinha uma forma de contágio semelhante a da gripe comum, por via aérea, contato direto com o infectado, ou indireto (através das mãos) com objetos contaminados. Fato importante, pois se o Ebola tivesse a mesma transmissão que o H1N1 seria um desastre para a humanidade. Além disso, a cultura de diversos países como os da África facilita a disseminação da doença, pois nestes locais há rituais com os defuntos, havendo o contato com eles, e como foi mostrado ainda há a passagem do vírus mesmo com o doente já morto. Como a solução contra a epidimeia é simples, usando essencialmente hábitos de higiene e boa nutrição, é de extrema prioridade que os governos forneçam estrutura para abrigar os doentes e o tratarem da maneira mais correta e segura, evitando assim a contaminação de mais pessoas.

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  5. Muito interessante saber mais sobre os cuidados para se prevenir do Ebola e o mais curioso é notar que "o Ebola não pode ser transmitido até que apareçam os sintomas, sendo, desta forma, improvável que o mesmo se transmita entre passageiros de um espaço confinado como um avião ou um trem". Com esse trecho podemos perceber que há um certo sensacionalismo causado pelo pânico geral, já que há várias pessoas tomando cuidados desnecessários por causa do medo excessivo da doença. Como podemos ver em http://g1.globo.com/bemestar/ebola/noticia/2014/10/ebola-tem-expansao-mais-lenta-em-comparacao-outras-doencas.html , o ebola tem expansão mais lenta que doenças como rubéola, catapora e a gripe causada pelo H1N1. "O problema do ebola, que levou a toda essa repercussão, é, em primeiro lugar, a mortalidade alta. Em segundo lugar, a ausência de tratamento específico. Em terceiro lugar, a grande dificuldade de controle no lugar em que está ocorrendo” segundo o médico Luiz Fernando Aranha Camargo, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Porém, não devemos deixar de continuar atentos à expansão da doença, que apresentou hoje uma suspeita de caso em Nova York, importante cidade cosmopolita. Espero novas atualizações para saber mais!

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  6. Vê-se no texto a dificuldade de contágio do vírus Ebola, que se transmite apenas através de fluidos corporais ou objetos contaminados. Por isso, as pessoas que tem mais risco de adquirir a doença são aquelas que estão próximas a alguém já contaminado. Dentre essas pessoas, temos os familiares, enfermeiros e médicos, que devem tomar todo o cuidado ao lidar com o paciente, utilizando luvas, equipamentos esterelizados, entre outros. Outra prevenção seria a produção de vacina contra esse vírus, que ainda não existe no mercado, mas pesquisas estão sendo feitas, para que se consiga vacinas eficientes (as vacinas agem estimulando o sistema imunológico a produzir anticorpos, que podem combater doenças infecciosas, tornando o indivíduo imune às mesmas) o mais rápido possível. Os primeiros ensaios clínicos de duas vacinas já estão em marcha: uma é da GlaxoSmithKline e a outra da NewLink Genetics, que foi desenvolvida pela Agência de Saúde do Canadá. Esta constelação de esforços das empresas farmacêuticas para encontrar uma solução para o ebola mostra que, pela primeira vez, os países ocidentais estão mesmo preocupados com a doença. Até agora, os surtos eram isolados no coração de África, afetando algumas centenas de pessoas, tendo assim um impacto sanitário pequeno. Por isso, chegou-se a 2014 sem um medicamento ou uma vacina contra esta doença, que chega a atingir os 90% de letalidade na estirpe mais grave. Mas a epidemia atual, em que já foram infectadas aproximadamente 9936 pessoas, principalmente na Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa, e que já tocou países como a Espanha e os Estados Unidos, evidencia que, deixado à sua sorte, o ebola fica fora do controlo e causa pânico. Espera-se que os testes com essas vacinas tenham resultado positivo, para que seja proporcionada a prevenção contra esse vírus.

    Referências:
    http://www.publico.pt/ciencia/noticia/o-contraataque-ao-ebola-esta-a-chegar-na-forma-de-varias-vacinas-1673815
    http://www.mdsaude.com/2012/03/sobre-as-vacinas.html

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  7. Percebe-se que a questão do Ebola está relacionada às questões de saúde, mas também possui um forte cunho social. Como foi afirmado no texto o Ebola existe há muito tempo e até então as indústrias farmacêuticas nunca se interessaram nas pesquisas e desenvolvimento em relação a essa doença, sendo esta enquadrada como uma doença negligenciada, tema da minha última postagem, ou seja, não dá lucro para as indústrias então não compensa o esforço para se investir em uma doença que afeta substancialmente a população miserável. "No ebola, não é o número de casos em si que assusta”, diz o médico Luiz Fernando Aranha Camargo, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Para efeito de comparação, ele cita o exemplo da malária, transmitida pela picada do mosquito Anopheles. A doença infectou 207 milhões de pessoas em 2012, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), matando cerca de 627 mil pacientes, principalmente na África Subsaariana. Segundo o especialista, a epidemia pode ter sido subestimada no início porque epidemias anteriores eram contidas com certa rapidez e houve uma confiança de que esse padrão se repetiria. “O que aconteceu diferente é que foi em uma região densamente povoada. No passado, aconteceu em lugares mais isolados. A concentração relativamente alta em uma tríplice fronteira, onde a movimentação é muito frequente, dificultou a contenção da doença.” No entanto fica uma questão, como controlar a transmissão dessa doença em um país como a África? Um país populoso, precário e cheio de culturas específicas, tida como erradas? Será que esse povo se dar ao luxo de ter a disposição os alimentos que não apresentam risco de contaminação, sendo que muitas vezes o que lhes restam para saciar a fome são as carnes das suas caças, São questões também a ser analisadas. Achei muito interessante a publicação, principalmente a medida que ele correlaciona a doença aos aspectos sociais, Aguardo novas postagens.

    http://g1.globo.com/bemestar/ebola/noticia/2014/10/ebola-tem-expansao-mais-lenta-em-comparacao-outras-doencas.html
    http://www.msf.org.br/o-que-fazemos/atividades-medicas/ebola

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