sábado, 29 de novembro de 2014

IX - A EPIDEMIA EBOLA:
VÍRUS EBOLA: O SEGREDO DO SUCESSO

Entenda um pouco sobre o vírus causador da doença considerada por muitos a mais devastadora já descoberta na história da humanidade.




"Nós não somos os hospedeiros naturais do vírus Ebola, que não evolui em nós."
(Tradução do autor do blog,  da frase original em inglês)

Vincent Racaniello,
Columbia University's Medical School



Muita coisa tem se falado sobre o vírus Ebola nos últimos meses, e muito do que preenche o conhecimento da população sobre esta doença está ligado ao seu potencial mortífero, às inúmeras vítimas, aos países africanos atingidos, e aos sintomas terríveis, dentre eles, o vazamento de sangue pelos poros, o mais temível e conhecido.

Entretanto há pessoas que conseguem fazer dinheiro com uma versão do vírus Ebola muito mais bonita e consideravelmente menos perigosa que, embora pareça estranha a primeira vista, fez um enorme sucesso de vendas nos Estados Unidos e esgotou rapidamente o estoque. Você daria para o seu filho um belo ursinho de pelúcia do vírus Ebola? 
Por mais que pareça estranho e totalmente inesperado, a réplica da doença que já matou mais de 4.500 pessoas no mundo todo, de acordo com a OMS, está fazendo um enorme sucesso. 
A empresa Giant Microbes, que se destaca produzindo diversos micróbios de pelúcia, relata sobre este assunto por meio do depoimento de sua gerente Carol Allam:
“Nós temos o boneco do ebola há anos, mas agora todo mundo está procurando um. Vendemos milhares nos últimos meses. Estão esgotados. Acho que é porque eles são muito parecidos com os de verdade. Se você olhar em um microscópio, verá que a forma do vírus é igual à do boneco”.

O objetivo da empresa seria criar algo que fosse educativo, e não apenas um brinquedo, e que de forma lúdica, fizesse com que as pessoas pudessem interagir, por exemplo, com o vírus da Aids, com a Pneumonia, a Rubéola, o Botulismo e etc. (O Ebola e alguns outros da coleção estão nas fotos abaixo, sendo o último - na foto isolada, e de cor preta - o vírus da Aids), aprendendo durante este processo (alguns vírus ganham características das doenças com as quais se relacionam, como por exemplo a gripe suína, que tem nariz de porco). 
Das réplicas do famoso vírus Ebola (que tanto tem sido foco das reportagens deste ano), só sobraram doze exemplares de 60 cm, que aguardam uma possível nova produção.





Durante todas as nossas postagens temos tentado decifrar este pequeno organismo, que é o vírus Ebola de modo a entender o seu mecanismo de ação, partindo dos tipos, sintomas que provoca no organismo, modo de contágio e, mais recentemente, decifrando o aparelho bioquímico. Entretanto, o vírus Ebola não é tão simples e fácil de lidar como a bela e cômica réplica que inicia esta postagem, e nessa semana, mais uma vez, tentaremos entender como se dá diversos processos, principalmente de cópia e evolução do vírus, e mais: citar as características próprias que o tornam tão especial.


Quem sou eu? O vírus Ebola.

O Ebola é um vírus RNA, da família Filoviridae e do gênero Filovirus, altamente infeccioso e mortal, que tem cerca de 19 mil bases de comprimento, sete genes (a maioria dos quais codificam proteínas que constituirão a estrutura do mesmo), estrutura básica e filamentosa, e  potencial epidêmico médio em relação a outras grandes doenças. Possui, (como já foi discutido em postagens anteriores), cinco formas reconhecidas, que variam entre si na sequência de bases dos RNAs e em aspectos sorológicos, e que recebem o nome do local onde foram descobertas primeiramente, (Bundibugyo, Costa do Marfim, Reston, Sudão e Zaire), sendo que destes, quatro causaram o surto, já que, embora o Reston possa infectar humanos, nenhuma enfermidade ou morte foi relatada. O Ebola está no estágio 3 de contaminação, no qual, como foi discutido na segunda postagem, o micróbio pode passar para o ser humano, e ocasionar ciclo de transmissão entre humanos, que entretanto não se mantém sozinho.



O vírus está presente em altas quantidades nos fluidos corporais que vazam de vários tecidos nas pessoas que estão morrendo da infecção, e o resultado mais direto e consequente, é que as pessoas com maior risco de novas infecções são aquelas que se importam com os mais doentes ou aqueles que lidam com os corpos dos parentes falecidos, (ou mesmo que dos que são deixados para trás), ainda, que o vírus possa ser também transmitido por menor contato, embora que mais dificilmente.
A transmissão do vírus Ebola se torna mais fácil apenas depois que os pacientes começam a perder líquidos em grandes volumes, e este momento corresponde justamente àquele em que o paciente necessita de mais cuidados, o que acaba expondo a um alto risco os médicos, outros profissionais de saúde, familiares, e amigos próximos, que chegam a ter 80% de chance de contrair a doença.
Mesmo que seja um vírus altamente mortal e tenha provocado uma grande número de óbitos no prolongado surto atual, o Ebola não é eficiente em espalhar infecções. O surto vem acontecendo desde dezembro do ano passado e só agora viu a infecção 10000, o que é pouco, comparado a uma cepa de gripe, que no mesmo tempo, provocou muitas mais mortes a nível mundial, em taxa de infecção de 10-15% da população das áreas afetadas.  
Ainda assim, o Ebola possui uma forma de disseminação eficaz, que encontrou seu jeito de atacar a saúde humana. Vincent Racaniello, da Universidade de Columbia University's Medical School, defende que nós não somos os hospedeiros naturais do vírus e que o mesmo não evolui em nós (embora sofra pequenas adaptações, que acabam se perdendo), de forma que cada surto que já ocorreu foi uma inteiramente nova transferência de um vírus para os seres humanos.


A rota do Ebola e a possibilidade da evolução

Mesmo que ainda existam grandes incertezas a respeito de como o Ebola faz seu caminho para os seres humanos, as evidências sugerem que o reservatório natural seja o morcego, o qual poderia transmitir a doença aos humanos através de frutas mordicadas, ou mesmo, ao servir de alimento.



Entretanto, caso o vírus Ebola consiga continuar circulando em hospedeiros, tal realidade de transmissão pode mudar na medida em que o mesmo tem o potencial de se submeter a uma adaptação significativa, já que as Polimerases de RNA que o vírus utiliza para duplicar seu genoma são propensas a gerar novas mutações, devido a erros na cópia do vírus, e à ausência de uma função chamada revisão (que geralmente cabe a enzima responsável pelo processo da cópia, que pode, por exemplo, reconhecer erros na sequência das bases, fazer backup e tentar novamente). Sem revisão, a enzima do Ebola não pode tomar outra decisão, senão deixar o erro no lugar e seguir em frente, resultando em uma taxa de falha, de 1 para cada 10000 bases. Lembre-se que, como foi dito no item anterior, o Ebola possui 19 mil bases, o que significa que todo vírus, dentre os milhares que são produzidos por uma célula infectada, é suscetível de conter pelo menos uma mutação.
Em certa medida, os vírus tendem a se adaptar aos seus hospedeiros, de forma a mantê-los vivos por mais tempo, para servirem como um maior grupo potencial de fábrica de vírus, (tipo de coisa que o Ebola ainda não consegue fazer), ou ainda evoluir de forma a se espalhar de modo mais eficiente.
Tem-se tido grande preocupação de que este último evento acontecesse primeiro, e o vírus Ebola conseguisse ser transmitido através de partículas do ar, mas essa possibilidade, embora perigosa, é de pouca probabilidade, devido a este evento de evolução ser extremamente raro.

Próximas descobertas?

Os vírus de febre hemorrágica têm atraído a atenção da comunidade científica há varias décadas, sendo o Ebola, a mais recente grande preocupação, devido ao surto que vem matando em massa a população africana. Apesar dos esforços que se tem feito, (muito tardios, diga-se de passagem), um tratamento realmente eficaz ainda precisa ser descoberto e as vacinas, submetidas a testes significativos.
Como já foi debatido desde a primeira postagem, parte da dificuldade e da falta de progresso em relação às pesquisas com o Ebola é decorrente da negligência das indústrias farmacêuticas e centros de pesquisas, (que não veem na doença uma forma de lucro ou mesmo ameaça), mas outro grande obstáculo se encontra também na própria natureza mortal do vírus Ebola, que dificulta em grande parte as pesquisas, na medida em que se precisa trabalhar com ele, em BSL-4, em relação ao nível de biossegurança, (lugares especializados esses que só existem em número de 20 nos EUA e não muito mais do que isso no restante do mundo), o que acarreta menor progresso em relação ao vírus da gripe, sarampo, ou poliomielite, por exemplo.
Enquanto não se investir mais nas descobertas citadas acima, ou na construção de mais laboratórios especializados, ou mesmo no direcionamento maior das pesquisas para o Ebola, este surto dificilmente poderá ser parado antes que mais e mais pessoas morram.




Em breve...
Sobre o Ebola, muitas perguntas podem surgir:
O que é MSF e quais os riscos dos profissionais da saúde que trabalham com o Ebola? É possível a cura total?  Tem Ebola no Brasil? O Ebola seria um grandioso embuste? Qual a Bioquímica do Ebola?
Esses são alguns dos assuntos que serão trabalhados nas próximas semanas.
Até.

Referências:

<http://evunix.uevora.pt/~sinogas/TRABALHOS/2000/virol00_Ebola.htm> Acesso em 28 de novembro de 2014.

<http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/08/1507520-sequenciamento-do-genoma-do-ebola-revela-como-virus-cruzou-fronteira.shtml> Acesso em 29 de novembro de 2014.

<http://arstechnica.com/science/2014/11/understanding-the-ebola-virus/> Acesso em 29 de novembro de 2014.

<http://extra.globo.com/noticias/mundo/ebola-de-pelucia-faz-sucesso-nos-estados-unidos-14346283.html> Acesso em 29 de novembro de 2014.
Postagem Extra da Semana




Boa Noite. 
Antes de publicar a postagem desta semana, faremos uma rápida retrospectiva dos conceitos estudados nas postagens passadas e que serão necessários para o entendimento geral da Bioquímica do vírus Ebola, de forma que, resumidamente, possamos relembrar as proteínas e efeitos discutidos.

Interferon - Também conhecido como interferona. É uma substância produzida pelas células do organismo dos animais vertebrados e alguns invertebrados, que tem a finalidade de defender o corpo contra agentes externos, tais como vírus, fungos, células neoplásicas e bactérias, produzindo uma resistência antiviral em células teciduais que não foram infectadas. Ele liga-se à membrana dessas células, e ativa o gene que codifica as proteínas antivirais. 

KPNA5 - Faz parte de um subconjunto de transportadores nucleares conhecidos como carioferinas alfa (KPNA, na sigla em inglês), cujo trabalho, é fazer a comunicação entre as células, como um mensageiro, transmitindo sinais e carregando todo tipo de mensagens do núcleo celular para outras partes da célula, ou vice-versa, que acabam por controlar várias funções do organismo, incluindo nossas respostas imunes.

STAT1 – Proteína que em decorrência da invasão do organismo é transportada para o núcleo, onde inicia a ativação dos genes de centenas de proteínas antivirais.

VP24 – Proteína do Ebola que rouba o lugar destinado ao fator imunológico, fazendo com que o KPNA5 perca a capacidade de transportar STAT1, e a proteína não consiga alcançar o núcleo celular, e ativar assim, a produção de Interferona. Assim o vírus Ebola desabilita o sinal antiviral celular intrínseco, facilitando a sua replicação, sem impacto no transporte normal de carga celular.

Tempestade de citocina - Efeito que consiste basicamente na produção exacerbada de citocinas, classe a qual pertence a Interferona, e que pode resultar em uma resposta violenta e mortal.

VP35 – Proteína do ebola que trabalha para suavizar a imunidade, ligando-se e inativando proteínas envolvidas nesta resposta, além de bloquear o reconhecido do RNA de cadeia dupla, que são um aviso de uma infecção viral. O VP35 lida com sua tarefa através de uma rota muito simples: se liga ao RNA de cadeia dupla, e o esconde assim, do sistema imune. Em parte em consequência disso, e também em decorrência da ação do VP 24, o sistema imune inato não desencadeia a produção de moléculas de sinalização e defesa, e assim, o vírus pode se instalar e se reproduzir.

Glicoproteína do Ebola – Única parte que normalmente se estende a partir da membrana e consiste na principal coisa que o sistema imunológico vê, sendo, portanto, ligada à capacidade de reconhecimento dos anticorpos dos pacientes que sobreviveram à infecção. É o que realmente mata as células, por atuar no bloqueio das mesmas, impedindo-as de colocar novas proteínas na sua superfície, o que acarreta uma perda de contato com as células vizinhas, e limita a capacidade de informar o sistema imune sobre o que está acontecendo.

Fácil, né?
Agora é só seguir em frente, que ainda temos algumas coisas a discutir nas postagens 9 e 10.

Até.

sábado, 22 de novembro de 2014

VIII - A EPIDEMIA EBOLA:
GENOMA, GLICOPROTEÍNAS E MORTE

Entenda um pouco sobre os princípios bioquímicos da doença considerada por muitos a mais devastadora já descoberta na história da humanidade.





“Ebola happens to have a protein that antagonizes innate immunity, and most viruses must have one of those, so it's not really unusual. The innate response is so powerful that, if a virus doesn't have something to counter it, it's going to be wiped out pretty quickly."

Vincent Racaniello, Columbia University's Medical School


Apesar dos receios do público, do medo mundial, e do que diz a mídia sensacionalista, sabe-se muita coisa sobre o Ebola e suas atividades, e tal conhecimento nos diz muito sobre as perspectivas para tratamentos e vacinas. Com um genoma constituído por um único filamento linear de RNA, que tem cerca de 19 mil bases de comprimento, o vírus Ebola contém apenas sete genes, a maioria dos quais codificam proteínas que constituirão a estrutura do mesmo (Para efeito de comparação, um vírus típico de herpes é mais de 10 vezes maior e leva mais de 35 genes). As partículas filovirais (grupo a qual faz parte o Ebola, já discutido na postagem 1), são morfologicamente muito semelhantes às partículas rabdovirais, sendo entretanto muito mais compridas, com uma estrutura básica longa e filamentosa, essencialmente baciliforme, com forma de U, b ou mesmo formas circulares, podendo atingir até 14,000 nm de comprimento, e tendo em média 80 nm de diâmetro (Mais sobre as características já foram discutidas em postagens anteriores).



Nesta semana, em sequência às postagens 6 e 7, vamos mais uma vez, explorar o universo bioquímico do vírus Ebola, e mais: Entender como sua estrutura o torna capacitado a invadir o nosso organismo e provocar a tão temível doença.



VP35 e o Sistema Imunológico


Além do VP24, já discutido na postagem passada, (para mais informações leia a postagem número 7), o vírus Ebola possui outra proteína muito intrigante chamada VP35, que funciona para ajudar o Vírus a combater a resposta imunitária do nosso organismo.
O sistema imunológico do corpo é composto por duas partes que funcionam cooperativamente. Uma delas, a imunidade adquirida, envolve anticorpos e outros receptores especializados que reconhecem agentes infecciosos específicos, sendo uma das razões do funcionamento das vacinas. Entretanto tal processo de defesa é demorado quando não se conhece o patógeno invasor, e dessa forma, para ajudar a proteger o corpo naquele ponto da infecção, as células contam com o chamado sistema imunológico inato, que não é específico, mas reconhece características comuns a muitos patógenos, como açúcares ou lipídios feitos por bactérias, e produz uma resposta tão poderosa, que elimina um vírus muito rapidamente se o mesmo não tiver algo para combatê-la (o comentário que inicia esta postagem se refere a este fato).
No caso do Ebola, a proteína VP35 faz várias coisas para suavizar a imunidade, ligando-se e inativando proteínas envolvidas nesta resposta, além de bloquear o reconhecido do RNA de cadeia dupla, que embora seja uma parte necessária na replicação dos vírus, não são normalmente produzidos nas células humanas, constituindo, portanto, um aviso de uma infecção viral. Segundo recentes pesquisas, o VP35 lida com sua tarefa através de uma rota muito simples: se liga ao RNA de cadeia dupla, e o esconde assim, do sistema imune. Em parte em consequência disso, e também em decorrência da ação do VP 24, o sistema imune inato não desencadeia a produção de moléculas de sinalização e defesa, e assim, o vírus pode se instalar e se reproduzir.




A glicoproteína Ebola e o tratamento

Outra substância extremamente importante ao vírus Ebola é uma glicoproteína (com o "glico" referindo-se ao fato de que é normalmente ligado aos açúcares em seu caminho para a superfície da membrana), que o auxilia a entrar nas células. Sendo a única parte que normalmente se estende a partir da membrana e, portanto, a principal coisa que o sistema imunológico vê, essa glicoproteína é ligada à capacidade de reconhecimento dos anticorpos dos pacientes que sobreviveram à infecção Ebola, que tendo como alvo essa substância do vírus, poderia ajudar no reconhecimento do invasor pelo sistema imunológico, além de impedir fisicamente o “engate” sobre as células, limitando as probabilidades de novas infecções.
Por este motivo, os esforços para desenvolver uma vacina para o vírus, e os tratamentos experimentais realizados recentemente, têm se baseado neste princípio, com os últimos consistindo no uso de um conjunto de anticorpos que têm como alvo a glicoproteína, e a prevenção, em pesquisas que consistem em produzir algo que possa expor esta glicoproteína ao sistema de defesa do corpo humano, usando-se de proteínas ou vírus inofensivos.
Há evidências de que a glicoproteína é o que realmente mata as células, por atuar no bloqueio das mesmas, impedindo-as de colocar novas proteínas na sua superfície, o que acarreta uma perda de contato com as células vizinhas, e limita a capacidade de informar o sistema imune sobre o que está acontecendo.
Outros estudos sugerem que este efeito é dependente do nível de quantidade dessa substância, que só atuaria dessa forma, em quantidades elevadas no organismo.

Visão aprofundada dos sintomas



Como já foi discutido nesta postagem e em textos passados, o vírus Ebola ataca inicialmente as células imunitárias, que em consequência disso, podem começar a expressar moléculas de sinalização imune de forma indiscriminada, levando à febre e mal-estar que são alguns dos primeiros sintomas da infecção. Outro problema causado pela infecção destas células é que eles são móveis, e a medida que atravessam a corrente sanguínea, têm o potencial de espalhar a infecção para novos locais, ajudando a transição do vírus, e na infecção das células endoteliais (que revestem os vasos sanguíneos), e são os alvos favoritos do Ebola. Assim que o vírus ataca as células das paredes dos vasos, os mesmos perdem sua integridade e começam a vazar, resultando nos sintomas clássicos das febres hemorrágicas: como a acumulação de fluidos derramados dos vasos sanguíneos (Edemas), hemorragias, além da ação descontrolada dos macrófagos infectados, que podem, por sua vez, agravar ainda mais a situação.

Conclusão

Entender o modo de ação do vírus Ebola é uma grande base no que diz respeito as pesquisas em busca de um tratamento mais eficaz e que possa erradicar a epidemia que aflige atualmente o mundo, como foi visto na postagem passada, e reiterado nesta, na medida em que a descoberta das glicoproteínas do Ebola e a sua relação com os anticorpos dos pacientes curados, abrem as portas para a produção de vacinas e hipóteses para tratamentos.
Sobre a “visão aprofundada dos sintomas” apresentada acima, é importante ressaltar que embora os efeitos mais cruéis e característicos do Ebola, decorram dos problemas que este vírus provoca nos sistemas circulatório e do sistema imunológico, que o direcionamento generalizado de células, acaba levando o mesmo a afetar diversos outros tecidos, e provocar, como já vimos anteriormente, os mais variados sintomas, e a consequente morte, caso a doença não receba tratamento adequado.





Em breve...
Sobre o Ebola, muitas perguntas podem surgir:
O que é MSF e quais os riscos dos profissionais da saúde que trabalham com o Ebola? É possível a cura total?  Tem Ebola no Brasil? O Ebola seria um grandioso embuste? Qual a Bioquímica do Ebola?
Esses são alguns dos assuntos que serão trabalhados nas próximas semanas.
Até.


Referências:

<http://evunix.uevora.pt/~sinogas/TRABALHOS/2000/virol00_Ebola.htm> Acesso em 22 de novembro de 2014.


<http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/08/1507520-sequenciamento-do-genoma-do-ebola-revela-como-virus-cruzou-fronteira.shtml>  Acesso em 21 de novembro de 2014.

<http://arstechnica.com/science/2014/11/understanding-the-ebola-virus/> Acesso em 21 de novembro de 2014.

sábado, 15 de novembro de 2014

VII - A EPIDEMIA EBOLA:
BIOQUÍMICA, PROTEÍNAS E O ORGANISMO HUMANO


Entenda um pouco sobre os princípios bioquímicos da doença considerada por muitos a mais devastadora já descoberta na história da humanidade.





"A inibição da localização nuclear do PY-STAT1 pelo VP24 ocorre devido à competição direta do VP24 e à aglutinação da subfamília KNPA".
Estudo Cell Host & Microbe, Faculdade WUSM



As proteínas são compostos orgânicos relacionados ao metabolismo de construção, e estão envolvidas nos mais diversos processos do nosso organismo, inclusive no que diz respeito à proteção contra agente infecciosos como o Ebola, que só obtém o seu sucesso e adquire capacidade mortal, através do mal funcionamento de uma proteína. Como foi discutido na postagem passada, no momento em que o organismo percebe um agente patogênico, uma proteína entra em ação e alerta as células saudáveis do corpo sobre o invasor, enviando uma mensagem diretamente ao centro de comando da célula, utilizando-se de uma via de emergência, em vista de preparar a "resistência" do corpo para a batalha contra o mesmo.
Entretanto, isso não acontece com o Ebola, que ‘hackeia’ o sistema de comunicações do organismo e libera uma proteína especial, que faz o mensageiro ficar irreconhecível e torna assim, o sistema imunológico cego para a sua presença, que passa despercebida, até o estágio onde os sintomas estão evidentes, ponto esse, em que o Ebola já agiu e danificou diversas partes do organismo.
Mas como se dá esse processo?

 

Cell Host & Microbe – Como o Ebola Mata

Em uma publicação científica aberta ao público, Cell Host & Microbe, pesquisadores da WUSM  (Faculdade de Medicina da Universidade de Washington), deram mais um grande passo para entender o modo como o vírus Ebola age no corpo humano. Já era de conhecimento dos cientistas a relação que existia entre uma proteína do vírus e uma proteína essencial ao sistema imunológico humano. O estudo, que tenta explicar o fato de o Ebola ser tão mortal em seres humanos, será explicado nos itens abaixo.



KPNA5, Interferon, STAT1, e a defesa do nosso Organismo

Nas nossas células existe uma proteína chamada KPNA5, que faz parte de um subconjunto de transportadores nucleares conhecidos como carioferinas alfa (KPNA, na sigla em inglês), cujo trabalho, é fazer a comunicação entre as células, como um mensageiro, transmitindo sinais e carregando todo tipo de mensagens do núcleo celular para outras partes da célula, ou vice-versa, que acabam por controlar várias funções do organismo, incluindo nossas respostas imunes.
Normalmente, quando da ocorrência da invasão do organismo por um agente infeccioso, outra proteína, o STAT1, é transportada para o núcleo, onde inicia a ativação dos genes de centenas de proteínas antivirais. O núcleo então, aciona seus alarmes celulares e libera a interferona, (que já começou a ser discutida na postagem passada), cujo nome, lembra “Interferir”, efeito esse, que faz parte da sua função.
A Interferona (imagem abaixo) produzida, então, combate o vírus, a bactéria, ou qualquer patógeno que esteja atacando as células, como explica Chistopher Basler, co-autor e professor de microbiologia no Hospital Monte Sinai, no comunicado do WU:

"A interferona é essencial para nossa proteção contra os vírus [...] Essa proteína é a responsável por várias respostas imunes a infecções virais, incluindo a autodestruição de células infectadas e o bloqueio do abastecimento necessário para a reprodução viral."

Ebola, VP24 e a Morte

O vírus Ebola é bem beneficiado se trabalhar em um organismo que não ofereça qualquer interferência em sua ação e, por isso, produz uma proteína especial que atrapalha grandemente o sistema mensageiro e protetor descrito acima, chamada VP24.
Tudo acontece da seguinte forma: Quando o Ebola invade o organismo, sua proteína se liga a uma molécula hospedeira conhecida como KPNA5, que, como já foi visto, é uma importante mensageira da célula. Por ação do VP24, que rouba o lugar destinado ao fator imunológico, o KPNA5 perde a capacidade de transportar STAT1, e a proteína não consegue alcançar o núcleo celular, e ativar assim, a produção de Interferona. 
O vírus do ebola desabilita o sinal antiviral celular intrínseco, facilitando a sua replicação, sem impacto no transporte normal de carga celular, e a sua ação, explodindo as células e se espalhando pelo corpo, ocasionando os diversos sintomas.
Quando a cavalaria biológica finalmente é ativada, o sistema já foi estilhaçado e não tem a capacidade de agir normalmente já que a presença do VP24, faz com que as células de defesa não consigam alcançar os lugares que estão destinadas a defender, atrasando ainda mais a resposta imunológica.



A tempestade de Citocina

Outro enorme efeito da supressão do sistema imunológico antiviral, é uma possível abertura para uma “tempestade de citocina”, efeito que consiste basicamente na produção exacerbada de citocinas, classe a qual pertence a Interferona, e que pode resultar em uma resposta violenta e mortal.
A produção de citocinas se inicia quando o organismo localiza algum invasor, e sua função consiste basicamente em enviar as células de defesa pra as áreas afetadas, onde as mesmas realizarão o trabalho respectivo, além de produzir mais citocinas. Um corpo saudável consegue controlar a volume da produção, mas durante uma “tempestade”, o comando para cessar a produção não é recebido nunca, e assim, as respostas imunes ficam descontroladas, desencadeando um ciclo de estímulos que resulta em problemas nas respostas imunes inflamatórias, febre alta e acúmulo de fluidos corporais e células imunes mortas, que somado ao declínio na capacidade coagulante do sangue infectado, irá resultar no sintoma mais terrível e famoso do Ebola: O derramamento de sangue pelos poros.

E o futuro?




Compreender o método que o vírus do ebola utiliza para paralisar o mecanismo de defesa celular irá servir certamente, de referência para a produção de compostos farmacêuticos que visam barrar a ação do vírus no organismo humano. 
Com a interação existente entre as proteína KNPA5, STAT1 e NP24, desvendada, resta aos cientistas do mundo inteiro, descobrir como podemos proteger e manter intacta a função de comunicação do mensageiro celular, e garantir assim, que o nosso organismo efetue uma resposta imunológica normal e controlada. 
Neste ponto de vista, acreditando no potencial de descobertas que possui a ciência humana, é possível que, no futuro, o temível vírus Ebola, que hoje abala o mundo e mata em massa a população africana, se torne apenas uma infecção viral comum que afete ocasionalmente a espécie humana, mas que não seja letal.





Em breve...
Sobre o Ebola, muitas perguntas podem surgir:
O que é MSF e quais os riscos dos profissionais da saúde que trabalham com o Ebola? É possível a cura total?  Tem Ebola no Brasil? O Ebola seria um grandioso embuste? Qual a relação entre o Ebola e a sociedade Africana? Qual a Bioquímica do Ebola?
Esses são alguns dos assuntos que serão trabalhados nas próximas semanas.
Até.



Referências:

<http://motherboard.vice.com/pt_br/read/como-o-virus-do-ebola-mata > Acesso em 15 de outubro de 2014.


<http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/o-que-acontece-quando-uma-pessoa-e-infectada-com-o-ebola> Acesso em 15 de outubro de 2014.

<http://www.infoescola.com/sistema-imunologico/interferon/> Acesso em 15 de outubro de 2014.


<http://noticias.r7.com/saude/cientistas-descobrem-como-virus-ebola-afeta-sistema-de-imunologico-13082014> Acesso em 15 de outubro de 2014.