VII
- A EPIDEMIA EBOLA:
BIOQUÍMICA,
PROTEÍNAS E O ORGANISMO HUMANO
Entenda um pouco sobre os princípios bioquímicos da
doença considerada por muitos a mais devastadora já descoberta na história da
humanidade.
"A
inibição da localização nuclear do PY-STAT1 pelo VP24 ocorre devido à
competição direta do VP24 e à aglutinação da subfamília KNPA".
As proteínas são
compostos orgânicos relacionados ao metabolismo de construção, e estão
envolvidas nos mais diversos processos do nosso organismo, inclusive no que diz
respeito à proteção contra agente infecciosos como o Ebola, que só obtém o seu
sucesso e adquire capacidade mortal, através do mal funcionamento de uma
proteína. Como foi discutido na postagem passada, no momento em que o organismo
percebe um agente patogênico, uma proteína entra em ação e alerta as células
saudáveis do corpo sobre o invasor, enviando uma mensagem diretamente ao centro
de comando da célula, utilizando-se de uma via de emergência, em vista de preparar
a "resistência" do corpo para a batalha contra o mesmo.
Entretanto, isso não acontece com o Ebola, que
‘hackeia’ o sistema de comunicações do organismo e libera uma proteína
especial, que faz o mensageiro ficar irreconhecível e torna assim, o sistema
imunológico cego para a sua presença, que passa despercebida, até o estágio
onde os sintomas estão evidentes, ponto esse, em que o Ebola já agiu e
danificou diversas partes do organismo.
Mas como se dá esse processo?
Cell
Host & Microbe – Como o Ebola Mata
Em uma publicação científica aberta ao público,
Cell Host & Microbe, pesquisadores
da WUSM (Faculdade de Medicina da Universidade de
Washington),
deram mais um grande passo para entender o modo como o vírus Ebola age no corpo
humano. Já era de conhecimento dos cientistas a relação que existia entre uma
proteína do vírus e uma proteína essencial ao sistema imunológico humano. O estudo, que tenta explicar o fato de o
Ebola ser tão mortal em seres humanos, será explicado nos itens abaixo.
KPNA5,
Interferon, STAT1, e a defesa do nosso Organismo
Nas nossas células existe uma proteína chamada
KPNA5, que faz parte de um subconjunto de transportadores nucleares conhecidos
como carioferinas alfa (KPNA, na sigla em inglês),
cujo trabalho, é fazer a comunicação entre as células, como um mensageiro,
transmitindo sinais e carregando todo tipo de mensagens do núcleo celular para
outras partes da célula, ou vice-versa, que acabam por controlar várias funções
do organismo, incluindo nossas respostas imunes.
Normalmente, quando da ocorrência da invasão do
organismo por um agente infeccioso, outra proteína, o STAT1, é transportada para o núcleo, onde inicia a ativação dos genes de centenas de proteínas
antivirais. O núcleo então, aciona seus alarmes
celulares e libera a interferona, (que já começou a ser discutida na postagem
passada), cujo nome, lembra “Interferir”, efeito esse, que faz parte da sua
função.
A Interferona (imagem abaixo) produzida, então, combate o vírus,
a bactéria, ou qualquer patógeno que esteja atacando as células, como explica
Chistopher Basler, co-autor e professor de microbiologia no Hospital Monte
Sinai, no comunicado do WU:
"A
interferona é essencial para nossa proteção contra os vírus [...] Essa proteína
é a responsável por várias respostas imunes a infecções virais, incluindo a autodestruição
de células infectadas e o bloqueio do abastecimento necessário para a
reprodução viral."
Ebola,
VP24 e a Morte
O vírus Ebola é bem beneficiado se trabalhar em
um organismo que não ofereça qualquer interferência em sua ação e, por isso,
produz uma proteína especial que atrapalha grandemente o sistema mensageiro e
protetor descrito acima, chamada VP24.
Tudo acontece da seguinte forma: Quando o Ebola
invade o organismo, sua proteína se liga a uma molécula hospedeira conhecida
como KPNA5, que, como já foi visto, é uma importante mensageira da célula. Por
ação do VP24, que rouba o lugar destinado ao fator imunológico, o KPNA5 perde a
capacidade de transportar STAT1, e a proteína não
consegue alcançar o núcleo celular, e ativar assim, a produção de Interferona.
O
vírus do ebola desabilita o sinal antiviral celular intrínseco,
facilitando a sua replicação, sem impacto no transporte normal de carga celular, e a sua ação, explodindo as células e se espalhando pelo corpo, ocasionando os diversos sintomas.
Quando a cavalaria biológica finalmente é ativada,
o sistema já foi estilhaçado e não tem a capacidade de agir normalmente já que
a presença do VP24, faz com que as células de defesa não consigam alcançar os
lugares que estão destinadas a defender, atrasando ainda mais a resposta
imunológica.
A tempestade
de Citocina
Outro enorme efeito da supressão do sistema
imunológico antiviral, é uma possível abertura para uma “tempestade de citocina”,
efeito que consiste basicamente na produção exacerbada de citocinas, classe a qual pertence a Interferona, e
que pode resultar em uma resposta violenta e mortal.
A produção de citocinas se inicia quando o
organismo localiza algum invasor, e sua função consiste basicamente em enviar
as células de defesa pra as áreas afetadas, onde as mesmas realizarão o
trabalho respectivo, além de produzir mais citocinas. Um corpo saudável
consegue controlar a volume da produção, mas durante uma “tempestade”, o comando para cessar a produção não é
recebido nunca, e assim, as respostas imunes ficam descontroladas, desencadeando um ciclo de estímulos que resulta em problemas nas respostas
imunes inflamatórias, febre alta e acúmulo de fluidos corporais e células
imunes mortas, que somado ao declínio na capacidade coagulante do sangue
infectado, irá resultar no sintoma mais terrível e famoso do Ebola: O derramamento de sangue pelos poros.
E
o futuro?
Compreender o método que o vírus do ebola
utiliza para paralisar o mecanismo de defesa celular irá servir certamente, de referência para a
produção de compostos farmacêuticos que visam barrar a ação do vírus no
organismo humano.
Com a interação existente entre as proteína KNPA5, STAT1 e
NP24, desvendada, resta aos cientistas do mundo inteiro, descobrir como podemos
proteger e manter intacta a função de comunicação do mensageiro celular, e
garantir assim, que o nosso organismo efetue uma resposta imunológica normal e
controlada.
Neste ponto de vista, acreditando no potencial de descobertas que
possui a ciência humana, é possível que, no futuro, o temível
vírus Ebola, que hoje abala o mundo e mata em massa a população africana, se torne apenas uma infecção viral comum que afete ocasionalmente a
espécie humana, mas que não seja letal.
Em
breve...
Sobre o
Ebola, muitas perguntas podem surgir:
O que é
MSF e quais os riscos dos profissionais da saúde que trabalham com o Ebola? É
possível a cura total? Tem Ebola no Brasil? O Ebola seria um grandioso
embuste? Qual a relação entre o Ebola e a sociedade Africana? Qual a Bioquímica
do Ebola?
Esses são
alguns dos assuntos que serão trabalhados nas próximas semanas.
Até.
Referências:
<http://motherboard.vice.com/pt_br/read/como-o-virus-do-ebola-mata
> Acesso em 15 de outubro de 2014.
<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0042-96862010000700006&lang=pt>
Acesso em 15 de outubro de 2014.
<http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/o-que-acontece-quando-uma-pessoa-e-infectada-com-o-ebola>
Acesso em 15 de outubro de 2014.
<http://www.infoescola.com/sistema-imunologico/interferon/>
Acesso em 15 de outubro de 2014.
<http://noticias.r7.com/saude/cientistas-descobrem-como-virus-ebola-afeta-sistema-de-imunologico-13082014>
Acesso em 15 de outubro de 2014.
O entendimento cada vez mais amplo da bioquímica envolvida na ação do vírus Ebola é fundamental para a criação de fármacos que possam curar os doentes ou ajudar o corpo deles a ter uma melhor resposta imunológica. Nesse contexto, uma das alternativas poderia estar relacionada ao bloqueio da tempestade de citocina (responsável pelas respostas imunes inflamatórias, febre alta, acúmulo de fluidos corporais e células imunes mortas, fatores importantes para a letalidade do vírus). Existem algumas alternativas já existentes que podem ter sua aplicação no caso do Ebola avaliada, como o uso de radicais livres, bloqueadores TNF-alfa, gemfibrozil, corticosteroides, inibidores de ACE e bloqueadores do receptor de angiotensina II e imunoglobulina para OX40.
ResponderExcluirÉ interessante a relação das proteínas STAT1 com a grande letalidade do vírus Ebola, visto que quando este vírus adentra no nosso organismo sua proteína se liga ao KPNA5 que perde a capacidade de transportar o STAT1, como aborda o texto. De acordo com os pesquisadores, VP24 funciona impedindo o factor de transcrição STAT1, que transporta mensagem antiviral do interferon, de entrar no núcleo e iniciar uma resposta imune. Como parte de uma resposta imunitária rápida, a célula permite STAT1 uma “via de acesso de emergência” para o núcleo. Em vez de bloquear toda a transferência nuclear, no entanto, VP24 incide sobre o bloqueio de STAT1 “acesso via de emergência.“Normalmente interferon provoca STAT1 para entrar no núcleo da célula, onde ativa os genes para centenas de proteínas envolvidas nas respostas antivirais,” Dr. Daisy Leung da Escola de Medicina da Universidade de Washington, disse. “Mas quando VP24 é anexado ao STAT1, não pode entrar no núcleo”.Uma das principais razões que o vírus Ebola é tão mortal é porque interrompe a resposta imunológica do organismo à infecção, descobrir meios de evitar este “desarme” do sistema imunológico será fundamental, mas como o momento é crítico, não será possível esperar muito tempo, as ações precisam ser rápidas.
ResponderExcluirReferência: http://www.plugbr.net/virus-ebola-desativa-resposta-imune-por-isso-e-tao-mortal/#ixzz3JMxfzkDB
É muito importante saber como o vírus do Ebola age para poder combate-lo. Como mostrou o post, a atuação desse vírus é bastante complexa, envolvendo diversas substâncias bioquímicas como as proteínas. Como é uma doença que vem se espalhando pelo mundo e rapidamente é importante destacar que já começou uma corrida contra o tempo para encontrar a cura. O primeiro passo foi entender por que algumas pessoas sobrevivem ao vírus. Nessa epidemia, três em cada dez infectados vencem o ebola.O corpo humano consegue produzir anticorpos que matam o vírus. Mas como o ebola se reproduz com uma velocidade enorme, devastadora, a vítima acaba morrendo antes que o organismo tenha tempo de eliminar o intruso.A chave estava na forma como o ebola entra nas células humanas. O vírus tem pequenas ‘garras’ de proteína que o prendem na membrana das células. Elas não entendem que ele é um agressor e o deixam entrar. Lá dentro, ele se multiplica.Sabendo disso, foi projetado um remédio revolucionário chamado ZMapp, uma vacina que ajuda os doentes a produzirem os anticorpos que impedem que o vírus se ‘agarre’ às células.Impedidos de entrar, os vírus são atacados pelo sistema imunológico e destruídos. O problema: só três doses do remédio, ainda experimental, existiam no mundo inteiro.
ResponderExcluirhttp://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/09/vacina-pode-curar-mais-devastadora-epidemia-de-ebola-da-historia.html
Pesquisadores da Universidade de Liverpool, em colaboração com a Saúde Pública da Inglaterra têm investigado novas formas de identificar drogas que possam ser usadas para tratar a infecção pelo vírus Ebola. Sua abordagem tem sido estudar quais proteínas dentro de uma célula são essenciais para as funções do vírus Ebola e são sequestradas pelo vírus para ajudar com a infecção. Uma das proteínas que eles têm como alvo é conhecida como VP24. Esta proteína perturba a sinalização em células humanas infectadas e perturba o sistema imunológico do corpo e a luta contra o vírus.Uma vez que a equipe identificou estas proteínas celulares ela foi capaz de descobrir se já existia algum tipo de droga que poderia bloquear a função da proteína particular. Uma droga identificada foi a ouabaina, que pode ser usada no tratamento de doença cardíaca. Administrar essa droga reduziu a replicação do vírus nas células tratadas.
ResponderExcluirhttp://emedix.uol.com.br/not/not2014/14set04med-jpr-fna-ebola.php
Citocinas são glicoproteínas que apresentam 4 principais ações:
ResponderExcluirMediadoras da imunidade inata: estimulam a ação dos macrófagos e das células NK , tipos de linfócitos que têm o papel de combater, principalmente, células tumorais devido à sua propriedade citotóxica.
Mediadoras da imunidade adquirida: potencializam o combate e ativam os linfócitos T, que serão diferenciados depois de reconhecerem o antígeno.
Quimiocinas: responsáveis pelo deslocamento de leucócitos para zonas de infecção, processo denominado diapedese.
Estimuladoras de hematopoiese (produção de sangue pela medula óssea): estimulam a o desenvolvimento de precursores hematopoiéticos (em geral , hormônios) e, assim, há a produção de novas células para suprir aquelas usadas durante a resposta imune. Também são denominadas fatores estimulantes de colônias.
A sua elevada produção resultante da confusão nos sinais do vírus causa os sintomas citados. Post muito interessante, levando a fundo a ação bioquimica do ebola.
FONTE
http://www.infoescola.com/sistema-imunologico/citocinas/
É percebido na postagem a via bioquímica através da qual o vírus ebola age no organismo. Deve-se procurar um meio de evitar contaminação para tão devastadora moléstia. As maiores farmacêuticas do mundo vão juntar-se para produzir uma vacina contra o ébola. Espera-se um milhão de doses no ano que vem. A companhia farmacêutica Johnson & Johnson disse que vai acelerar os seus trabalhos de produção de uma vacina experimental contra o ébola, e que já está a colaborar com a britânica GSK. Espera-se que até maio do próximo ano já estejam disponíveis 250 mil doses da vacina, com um milhão a serem produzidas em 2015. O chefe de pesquisa da Johnson & Johnson, Paul Stoffels, diz que as duas empresas vão apoiar o trabalho uma da outra e, se isso fizer sentido, combinarão as suas vacinas, por agora a serem desenvolvidas em separado, avança a Reuters.
ResponderExcluirEmbora atualmente não haja ainda vacina para o ébola, a Johnson & Johnson já vai começar a fazer testes em humanos em janeiro, enquanto a GSK e a NewLink Genetics já estão a fazer testes clínicos.
Fonte:
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=4194918
Essas descobertas são interessantes, pois colocam os pesquisadores na rota do desenvolvimento de medicamentos para combate do vírus, e até mesmo na trilha de uma possível vacina. Entretanto, é preocupante, pois os povos atingidos, boa parte, têm o sistema imunológico comprometido, visto que nessas regiões há carência alimentar ( entende-se, carência proteica) e há grande incidência de AIDS (imunossupressora), o que torna essa doença mais grave. Fazendo um acréscimo, vale ressaltar, que as infecções pelo vírus Ebola são caracterizadas por uma rápida e potente supressão decorrente da ativação das respostas imunes inatas antivirais sistêmicas conhecida como tempestade de citocinas, sendo esta responsável pelo comprometimento vascular e hemorragia, levando a falência de múltiplos órgãos, choque e até mesmo a morte. Fonte: http://blogdasbi.blogspot.com.br/2014/11/journal-club-iba-virus-ebola-x-sistema.html
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